Meu vizinho de cima é crente. Ele gosta de ouvir músicas "gospel". Que vem de "God Spell", alguma coisa como um encantamento de Deus, sei lá. Teve até um filme de ópera rock nos anos 70, "Godspell, a esperança", da mesma safra de "Jesus Cristo superstar"... mas a gospel de verdade vem dos spirituals, os cantos dos negros americanos nas igrejas criadas por eles pra se reunirem em tempos de segregação dura... é um canto lamentoso, mas vibrante, cheio de energia, corais lindos, e de um deles saiu Ray Charles para criar a música soul, outra filha dileta do spirituals. Mas hoje qualquer música de igreja é considerada gospel, já perdeu todo o sentido. É igual dizer que bruno e marrone e victor e leu cantam musica sertaneja. Pode ser "sertaneja", mas as aspas não deviam ser dispensadas.
Meu vizinho de baixo é uma instituição educacional infantil para crianças mirins. Todo dia de manhã, antes de sair de casa, escuto os meninos cantando. Tem uma musiquinha que fala "arroz, feijão, batata frita e macarrão"... eles cantam com tanta alegria... sabem que vão comer daí a pouco... devem ser bem tratados lá, que ótimo.
Meu vizinho de frente, ocupando toda a quadra, é um asilo de velhos. (existe asilo de novos?) Quando a Felícia faz bolo, ela leva uns pedaços lá, fala que vai dar pro "vô". Ele não é vô dela, mas não sei como nem quando começou essa relação exo-familiar. Acho bonito... De vez em quando também um carro tenta entrar lá sem passar pelo portão. Explico: minha rua é um morro bem a pino, um dos mais a pino da minha cidade de morros a pino. Duas vezes já, depois que moro ali, um carro perdeu o freio na descida e jogou a direção no muro. Como o muro ocupa todo o quarteirão, é melhor freiar no muro do que do outro lado da rua, onde pode freiar em alguém, ou descer o morro até o fim e entrar na casa da rua de frente sem bater (na porta)... Lá também rolam músicas gospel, só que ao vivo, porque o asilo é de uma igreja evangélica que realiza cultos ali de vez em quando.
E na minha casa rola rock. E MPB. E seus derivados (do rock e da MPB). Nunca saio de casa sem ao menos meia horinha de música. Hoje deixei rolando o video do scorcese sobre os Stones, "Shine a Light", e pra encerrar umas duas do dvd ao vivo dos Titãs e Paralamas. Tem dia que estou mais pra AC/DC e Led Zeppelin antes de sair. Mas ontem mesmo foi o último do Lô Borges, "BHanda", que tá muito bom. Ao contrário do Milton, o som do Lô até hoje é Clube da Esquina. Esses dias tem rolado também o da Nara Leão da coleção da Folha, que veio com um livreto sobre ela escrito pelo Ruy Castro (autor dos textos de toda a coleção de 20 CDs); o Paul McCartney Live in Quebec, da turnê atual dele (mais do mesmo... muito bão); um ao vivo do Black Crowes, gravado no Fillmore em San Francisco (o palco onde pontificaram Janis, Jimi Hendrix e Jefferson Airplane); e tá rolando também os "Cantoria" (volumes 1 e 2), um grande encontro entre Elomar, Xangai, Vital Farias e Geraldo Azevedo, que eu ouvia muito em vinil no fim dos anos 80 e acabei achando num sebo...
Ah, como eu gosto disso.
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