UAI, 25 anos depois

Em 1985, lancei meu primeiro livro de verdade (o anterior, "Almanaque do Camilo", foi lançado como livro mas na verdade foi um fanzine...). Agora ele vai sair numa segunda edição revista e melhorada!

Vivíamos a euforia da eleição de Tancredo Neves pondo fim à ditadura militar. Reuní charges publicadas entre 1983 e o dia 16 de janeiro de 1985 (o dia posterior à eleição de Tancredo no Colégio Eleitoral) focalizando as "Diretas já", os apuros econômicos em tempos pré-hiperinflação, a repressão ao Congresso para impedir a aprovação da emenda Dante de Oliveira (que reestabelecia eleições diretas para presidente da República), o "plano B" da oposição para derrubar o candidato dos militares nas eleições indiretas para presidente (Maluf) e, finalmente, a escolha de Tancredo como nome de consenso para derrubar o governo militar no seu próprio habitat, que era o infame colégio eleitoral.

Pra quem passou a adolescencia inteira sob uma ditadura militar, como eu, poder participar daquele momento como cartunista foi marcante. Me uni - meio de longe - a Chico e Paulo Caruso, Ziraldo, Jaguar, Henfil, Nani e tantos outros que, através do traço, militavam na infantaria para derrubar de vez a ditadura.

Pra completar, vivíamos os dias do Rock in Rio. Quando Tancredo foi eleito, no dia 15 de janeiro, Cazuza encerrou o show do Barão Vermelho naquele festival saudando os novos tempos que se aproximavam. É, todos acreditávamos que seriam tempos de democracia plena, direitos humanos respeitados, o fim da censura, melhores condições de vida para todos - incluindo saúde, educação, cultura, salários dignos e tudo o mais que viria com o povo no poder, representado pelos seus políticos eleitos de forma direta e democrática. Não vou falar disso agora que dá tristeza. Enfim, o Rock in Rio saudava os novos tempos e eu ainda consegui correr pra lá, acompanhado do meu amigo Alexandre Camaleão Desbundado Cogumelo Daladier Pereira vulgo Bípede Penoso Contemporâneo, ou seja, Galo Nooooooovo, e pegar os dois últimos dias do festival, lavando a alma numa festa gigantesca ao som de AC DC, Scorpions, Ozzy Osbourne, Barão Vermelho, Blitz, Gilberto Gil, B52's, Yes, Whitesnake, Pepeu Gomes e Baby Consuelo...

É, foram dias memoráveis viu. Enfim, logo depois desses dias reuní charges que publicava no Diário do Rio Doce, de Valadares, e crônicas que publicava em A Semana, de Caratinga, tendo o momento político como tema, e publiquei num livro intitulado "Uai... alguma coisa está errada". O livro saiu em março, entre a eleição e a morte de Tancredo Neves, em abril. Fizemos um big lançamento em Caratinga, que A Semana (jornal que eu trabalhava) e O Jornal de Caratinga (nosso concorrente) saudaram como o "acontecimento cultural do ano" (tenho os recortes). O concorrente concordar com isso demonstra que não era rasgação de seda, né... mas foi mesmo um show: Juarez Gomes de Sá declamou poesias, Borracha e sua turma fizeram uma demonstração de capoeira, Cabeto, Luiz Cláudio e Kelly Tomaz (pouco antes de formarem a banda Eclipse) tocaram Pink Floyd e Led Zeppelin , o som Temporal fez a música ambiente e nós vendemos exatamente 97 livros, recorde pra qualquer lançamento em Caratinga. Ah: a Adega Cogumelo Amarelo ficou responsavel pelo coquetel. Foi uma noite fantástica. Tenho fotos históricas pra mostrar... feitas por um Elizeu Mól em início de carreira!

Agora, passados 25 anos, o livro vai ser relançado, em edição de luxo, com apoio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Colori todos os desenhos (são 81) com aquarela (veja um deles no alto desta coluna), e vai ficar no capricho. Ainda por cima, o lançamento será no Memorial Tancredo Neves, em São João Del Rei (ainda estamos preparando mas quando estiver tudo confirmado vou contar pra todo mundo aqui).Em BH vai ser no Palácio das Artes. Caratinga a gente ainda vai ver onde será, mas tem de ser uma festa à altura da anterior, claro!