terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Sobre a cultura em Caratinga
“Falta de cultura pra cuspir na estrutura” (Raul Seixas)
Vivemos numa cidade do interior, provinciana como como toda cidade do interior, até mesmo aquelas que se acham mais cosmopolitas... sei disso porque atuo em várias cidades, como Ipatinga, Montes Claros, Itabira, São João Del Rei e outras; em todas elas, a cultura é valorizada, os agentes culturais produzem com apoio oficial e da comunidade, mas são atacados por todos os lados por cobranças que, traduzindo, resumem-se a esta frase: “podia ser muito mais!”
Por exemplo, Itabira, onde fiz uma exposição de desenhos sobre poesia de Drummond junto a Ziraldo, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, ajudei a organizar o Salão Drummond de Humor e participei do encontro de ilustradores “Tropeirão Ilustrado”: a cidade tem uma fundação que é um gigante da cultura, uma programação anual intensa, uma lei de incentivo eficaz, mas o que eu vi de gente malhando a cultura da cidade, foi brincadeira! Até viraram pra mim e disseram, “Caratinga sim, é que é uma cidade cultural!”
Vi o mesmo em São João Del Rei, onde estive lançando a Jararaca Alegre dentro do Inverno Cultural da Universidade Federal de São João Del Rei, no ano passado, e estarei lançando meu livro “Uai... alguma coisa está errada – 2ª edição” no próximo Inverno Cultural, em julho (depois falo sobre este livro, Caratinga é prioridade nos lançamentos!). Lá, também, que eu acho um paraíso da cultura (e ainda tem Tiradentes bem do lado!), eu vi gente reclamando.
Ipatinga e Timóteo, no Vale do Aço, tem as fundações Usicultura e Acesita, que garantem investimentos vultosíssimos e financiam a cultura o ano inteiro, fora o apoio dos municípios - lá também eu vi reclamação.
E por aí vai, até chegar a BH, onde passo boa parte do meu tempo: eu acho a capital mineira o máximo pra quem curte prazeres culturais, como eu. Basta pegar um jornal diário da grande BH e ir no caderno de cultura e escolher entre exposições, teatro, cinema, cursos, oficinas e, principalmente, música, muita música – desde a de outros estados que aportam lá, quanto a feita localmente, de forma autoral ou releituras. É muito alto o nível da programação diária de música em BH. Mesmo assim, a gente vê pessoas reclamando que BH é uma “roça grande” e não tem opções culturais. Parece brincadeira! Principalmente levando-se em conta que tem pra todos os bolsos, desde o 0-800 até o balcão do Palácio das Artes.
E Caratinga, onde entra nessa história?
Calma, entra agora: nossa cidade pode ser conhecida como “cidade cultural” lá fora, mas até hoje só era isso tudo porque os agentes culturais locais – entre os quais me incluo, quem disser que não será desmascarado até pelas pedras que repousam debaixo do asfalto das ruas – sempre fizeram sua parte. Lutando contra todo tipo de adversidade, por não ter tido ainda uma política oficial de apoio à cultura.
Esta política hoje existe. Editais públicos como a Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o Fundo Municipal de Cultura e os concursos anuais de literatura viabilizam a produção local. Através do fundo, por exemplo, em 2010 foram lançados livros, CDs, revistas (a Jararaca Alegre inclusa), foram realizadas oficinas e cursos, foram feitas sessões de cinema nas escolas e outros eventos.
Uma Secretaria de Cultura recém criada não tem obrigação de fazer oba oba na rua pra dar satisfação. O principal é estabelecer uma política cultural, que apóie e valorize a produção local, viabilize realizações que partam de baixo pra cima, ações localizadas que prestigiem grupos e tribos culturais, que tire o pires da mão dos agentes culturais para que eles parem de “mendigar” apoio e possam criar e produzir com dignidade.
Este trabalho começou a ser feito pelo Secretário de Cultura Juarez Gomes de Sá. Nós, agentes culturais de Caratinga, não tínhamos dúvida de que ele seria capaz, pois acompanhamos seu trabalho desde sempre. Com a pouca verba de que dispõe, e com a humildade e ausência de ego que lhe é característica, Juarez vem fazendo um trabalho hercúleo, partindo de um pequeno Davi liliputiano.
Que o Juarez continue este trabalho que começou tão bem, e torço para que este trabalho tenha continuidade com os próximos ocupantes daquela cadeira. Pra quem não gosta, não se interessa e nunca fez nada pela cultura, o trabalho dele pode até não estar aparecendo. Mas pra quem ralou a vida inteira nesta área, e digo isso em nome da grande maioria da classe cultural de Caratinga, o trabalho de Juarez merece todo o nosso aplauso.
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